O que muda no corpo do homem após a retirada da próstata (prostatectomia radical)?
- hugosantos901
- 22 de set.
- 5 min de leitura
A cirurgia de retirada da próstata, conhecida como prostatectomia radical, pode provocar mudanças importantes no corpo do homem — especialmente nos aspectos urinário, sexual e ejaculatório. Embora muitos pacientes se adaptem bem ao novo cenário, alguns enfrentam um período de recuperação mais longo.
Neste post, explico de forma clara e baseada em evidências o que realmente muda após a retirada da próstata, por que essas mudanças ocorrem e como lidar com elas com qualidade de vida.

Onde fica a próstata e qual a sua função?
A próstata é uma glândula que faz parte do sistema reprodutor masculino. Ela está localizada logo abaixo da bexiga e envolve o início da uretra, canal por onde a urina e o sêmen saem do corpo.
Sua principal função é produzir o fluido prostático, um dos componentes do sêmen. Esse fluido, em conjunto com as secreções das vesículas seminais, ajuda a nutrir e proteger os espermatozoides após a ejaculação, aumentando suas chances de sobrevivência e fertilização.
Vale reforçar: a próstata não tem papel na produção de testosterona, que é feita nos testículos.
Se quiser entender mais a fundo o que é a próstata e para que ela serve, escrevi um post completo só sobre isso: Acesse-o aqui.
O que acontece com a ejaculação após a prostatectomia radical?
Durante a prostatectomia radical, além da próstata, também são removidas as vesículas seminais — estruturas responsáveis por produzir parte do fluido que compõe o sêmen.
Com a retirada desses órgãos, o homem deixa de produzir o líquido expelido durante a ejaculação. Por isso, mesmo que o homem tenha estímulo sexual e alcance o orgasmo, não há mais saída de líquido seminal — uma condição chamada de “ejaculação seca”.
Essa mudança costuma ser bem tolerada pela maioria dos pacientes. Muitos se adaptam rapidamente ao novo padrão ejaculatório, especialmente ao compreenderem que a sensação do orgasmo pode ser preservada, mesmo sem a emissão de sêmen.
É possível ter orgasmo sem a próstata?
Sim. É perfeitamente possível ter orgasmo mesmo após a retirada da próstata.
Embora a ejaculação seja seca pela ausência da próstata e das vesículas seminais, a sensação de prazer durante o clímax sexual geralmente permanece preservada.
Isso acontece porque o orgasmo é uma experiência neurológica, gerada principalmente no cérebro, acompanhada por contrações musculares involuntárias na região pélvica. Ou seja, mesmo sem a emissão de sêmen, o homem pode continuar sentindo prazer e alcançando orgasmo normalmente.
Como fica a ereção após a retirada da próstata?
A capacidade de manter ereções após a prostatectomia radical depende de diversos fatores, sendo os principais:
· Qualidade da ereção antes da cirurgia: se o paciente já apresentava dificuldades de ereção antes da operação, é provável que o quadro persista.
· Relação do tumor com os nervos cavernosos: essas estruturas, responsáveis pela ereção, passam muito próximas da próstata. Quando o câncer compromete os nervos, não é possível preservá-los durante a cirurgia, aumentando o risco de disfunção erétil.
· Técnica cirúrgica utilizada: pacientes submetidos à cirurgia robótica tendem a apresentar recuperação erétil mais rápida e eficaz em comparação à cirurgia aberta tradicional, graças à maior precisão da robótica na preservação dos feixes nervosos.
É importante reforçar: existe, sim, risco de redução na rigidez das ereções após a retirada da próstata. Por isso, muitos pacientes se beneficiam de tratamentos como:
· uso de medicações orais (como a tadalafila),
· dispositivos de vácuo,
· e a chamada reabilitação peniana, que envolve estímulo precoce à atividade sexual.
Há risco de incontinência urinária?
Sim. Todos os pacientes submetidos à prostatectomia radical estão sujeitos ao risco de desenvolver incontinência urinária no pós-operatório.
Isso acontece porque a cirurgia é realizada próxima aos músculos e esfíncteres responsáveis pelo mecanismo de continência urinária. Após a retirada da próstata, esses músculos precisam de um período de adaptação e recuperação de força até voltarem a funcionar plenamente.
O tempo de recuperação é bastante variável entre pacientes, mas estudos mostram que a cirurgia robótica ou laparoscópica oferece maior taxa de recuperação da continência urinária em comparação com a cirurgia aberta tradicional.
Além da técnica cirúrgica, outros fatores também influenciam:
· Idade do paciente
· Tamanho e agressividade do tumor
· Procedimentos prévios na próstata (como RTU)
· Condição prévia da musculatura pélvica
A retirada da próstata pode reduzir o tamanho do pênis?
Sim. A redução no tamanho do pênis após a prostatectomia radical é um fenômeno conhecido, mas na maioria das vezes é temporário.
Isso ocorre porque, durante a cirurgia, é necessário realizar uma pequena tração da uretra para dentro da pelve para conectar novamente a uretra à bexiga. Esse ajuste anatômico pode causar uma aparente diminuição do comprimento peniano.
Estudos mostram que:
· a média de redução costuma variar entre 1 e 2 cm,
· a maioria dos pacientes recupera o tamanho original do pênis após cerca de 36 a 48 meses da cirurgia.
Além disso, no pós-operatório, a associação entre disfunção erétil em recuperação e a cicatrização local pode dar a falsa impressão de perda de tamanho ainda maior.
A boa notícia é que a prática de reabilitação peniana precoce — incluindo uso de medicamentos, dispositivos de vácuo e estímulo sexual regular — auxilia não apenas na recuperação da função erétil, mas também na restauração do comprimento peniano.
É possível ter filhos após a retirada da próstata?
A resposta é "sim" e "não". Após a prostatectomia radical, o homem não consegue mais ter filhos de forma natural, pois a cirurgia remove as glândulas responsáveis pela produção do líquido seminal e pela ejaculação — funcionando, na prática, como uma espécie de “vasectomia definitiva”.
Entretanto, ainda existem opções de reprodução assistida:
· Congelamento de espermatozoides antes da cirurgia (opção mais indicada).
· Coleta de espermatozoides diretamente dos epidídimos ou testículos, que continuam produzindo e armazenando espermatozoides mesmo após a retirada da próstata.
Com essas técnicas, é possível realizar fertilização in vitro e manter a chance de ter filhos biológicos.
Dr. Hugo Octaviano — Urologista pelo Hospital Israelita Albert Einstein, especialista em uro-oncologia e cirurgia robótica - CRM-SP 185697
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